terça-feira, 8 de novembro de 2011

A MÁSCARA - RAFAEL SILVA CLEMENTONI

A Máscara


A máscara esconde o rosto 
Atrás desta máscara
Existe um lindo rosto


A máscara vai às festas
As festas vão à máscara


Depois da festa,
A máscara será retirada.

domingo, 6 de novembro de 2011

A PALAVRA - RAFAEL SILVA CLEMENTONI

A Palavra

A palavra diz tudo
A palavra diz nada 


Depende de quem usa
Ninguém faz nada


Dependendo de como é usado
Para termos o ganha pão.

sábado, 29 de outubro de 2011

A ARANHA - RAFAEL SILVA CLEMENTONI

A ARANHA

A aranha tece a teia
Tecendo a teia
A aranha desce 


Descendo, faz o desenho
Fazendo formas
Continua descendo a sua teia


Continuando tecendo a sua teia
Vai descendo a aranha.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

BARCO - João de Sá

BARCO

Coração, barco balançante
Que carta, vagarosa
Um mar de emoções.
Que tem a última palavra
Que domina a mente

O barco balançante é assim.

Sendo que ele anuvia
Os pensamentos
Do dia a dia
E bate forte
Faz a carga
Balançar.

E corta o mar
E corta o vento.

E leva os homens, marrentos
Leva mulheres, choronas
Leva passaportes de amor.

Corta o céu
E corta as estrelas
Alcança um mundo desumano
Ultrapassa tudo e vence todos
Obarco, balançante

Balançando, balançando
Inclinando-se e lutando
O barco cruza o tempo
O espaço, o ar.

O barco alcança tudo
O que for possível
Imaginar
Porque o barco balança, sim
Mas não cai.


RETIRADO DO JORNAL ESTADO DE MINAS - CADERNO GURI - 1º DE OUTUBRO DE 2011 - AUTOR: JOÃO DE SÁ

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU - Carlos Drummond de Andrade


ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU
Carlos Drummond de Andrade
Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Lucidez Perigosa - Clarice Lispector


A Lucidez Perigosa
Clarice Lispector
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
- essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Primeiro dia


A chuva cai, a chuva cai sem medo de aonde cair.

A chuva cai, a chuva cai ela vem a cair.

Sem medo do local da queda ela vem a cair.

Sem rancor das cidades e dos campos ela vem a cair.

A chuva cai, a chuva cai.